A despeito do saldo de milhões de mortes e a destruição parcial de vários países, a Segunda Guerra Mundial deixou um legado positivo muito importante para a indústria cinematográfica: uma superabundância de bons filmes.
De 1945 para cá - ou até mesmo um pouco antes, como foi o caso de Casablanca, lançado em 1942, e de outras produções inglesas e americanas cujo patriotismo servia de propaganda para a suas campanhas – surgiu uma miríade de filmes sobre esse conflito mundial, passando a engrossar as fileiras do gênero Guerra, que até então comia a poeira dos Westerns, e vivia sob a sombra do drama e da comédia. A segunda grande guerra é, de longe, a discórdia bélica que mais serviu de tema para a “telona”. Mas por que tal gênero só deslanchou na segunda metade do século XX?
É bem verdade que para realizar filmes dessa natureza o som seria imprescindível. Fica difícil idealizar um ambiente de guerra sem o barulho dos morteiros e das metralhadoras, por exemplo. Mais difícil ainda é imaginar os imortais Chaplin e Keaton protagonizando bravos soldados apenas com suas pantomimas. O som só chegaria às salas de cinema no final da década de 20, quando os estúdios Warner estavam à beira da falência e resolveram apostar suas últimas fichas nessa inovação que poucos “botavam fé”, lançando O Cantor de Jazz, em 1927. Já dá pra imaginar o que aconteceu, não é? Pois bem, o filme foi sucesso total, obrigando os demais estúdios a se modernizarem, e causando uma verdadeira revolução no modo de se fazer cinema. O primeiro passo para emplacar “Os guerras” estava dado, faltava agora um conflito de proporção verdadeiramente mundial para engendrar de vez esse gênero. E foi justamente o que aconteceu. Em 1939 ele começa, e só termina seis anos depois, em agosto de 1945.
Com o final do conflito, após a rendição japonesa, grande parte da Europa estava um caos: uma parcela considerável da população masculina jovem havia morrido e outra ficaria inválida pelo resto da vida, devido a ferimentos graves; a economia de países como Alemanha, Itália e Japão estava arruinada e os Estados Unidos da América se consagraram como o grande campeão do conflito e despontaram como a maior potência do pós-guerra. Dessa maneira, foi possível estender sua influencia sobre as demais nações do mundo.
A prosperidade econômica que os norte-americanos passaram a desfrutar teve um reflexo tremendamente positivo no cinema do país: muitos magnatas passaram a investir vultosas quantias nesse segmento, e agora, os produtores, diretores e roteiristas poderiam reproduzir toda a “bravura e heroísmo” dos soldados que viveram a guerra, contando com o dinheiro do empresariado e com o respaldo do governo e da população, que ansiava por ver imagens que retratassem as batalhas.
Na Europa, mais especificamente na Itália, o cinema sofreu um impacto também “positivo”, só que de maneira distinta. A Cinecittà e o movimento Realista, criados por ordem de Mussolini, sucumbiram junto com ele. Em oposição a isso apareceu o Neo-realismo italiano, encabeçado por Rossellini e De Sicca que não tratava especificamente de guerra, mas, sim, de suas conseqüências mais funestas: o desemprego, a dor e a miséria.
Não é preciso muito esforço para compreender que na gênese dos conflitos armados há diversos interesses em jogo. O que também é de fácil percepção são os malefícios que eles trazem ao local onde se desenrolam. Deixam marcas que talvez nem o tempo seja capaz de apagar. Entretanto, ainda assim há pessoas que consideram a Guerra justificável. Eu, particularmente, não tenho uma opinião formada a esse respeito, mas acredito que se a Segunda Guerra contribuiu de maneira favorável às gerações que vieram depois, servir de mote para a realização de grandes filmes foi, sem dúvida, a mais louvável dessas contribuições.
Um comentário:
Muito massa o artigo. Mesmo mesmo!
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