sábado, 22 de setembro de 2007

O Pagador de Promessas


O Cineclube Mossoró exibirá, no próximo sábado, dia 29, um grande sucesso do cinema brasileiro. Por que não dizer mundial? O Pagador de Promessas, filme de 1962, foi ovacionado em grande parte do mundo; recebeu uma miríade de elogios por parte da crítica especializada, chegando a ser premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Baseado na peça teatral homônima de Dias Gomes, o filme conta a história de “Zé do Burro” – interpretado por Leonardo Villar - um camponês do interior da Bahia, humilde e ingênuo, porém, de caráter bastante íntegro. Após a queda de um raio que atingira o seu burro, Zé, desesperado com a possibilidade de perder o seu querido animal, faz uma promessa para Santa Bárbara, a fim de que esta livrasse o jegue da morte. Caso a graça fosse alcançada, Zé doaria parte do seu sítio e carregaria uma cruz – que segundo as suas próprias palavras, seria “tão pesada quanto a de Cristo” – até o altar da igreja de Santa Bárbara mais próxima.

Como o burro havia escapado do acidente, Zé teria de pagar a sua promessa. Entretanto, ao contrário do que muitos podem pensar, a tarefa mais complicada para o protagonista não seria a árdua e longa caminhada, mas, sim, ter de enfrentar a intolerância da Igreja Católica. Como a promessa havia sido feita em um terreiro de Candomblé, embora se destinasse a uma santa genuína do catolicismo, o Padre Olavo (Dionísio Azevedo), o responsável pela paróquia de Santa Bárbara, não permite que Zé deposite a cruz ante o altar.

A partir desse momento, entram em cena novas discussões que vão muito além da fé e do sincretismo religioso – apanágio do povo baiano. Um simples ato de gratidão e devoção resulta em questões políticas e sociais. Rosa (Gloria Menezes), a esposa de Zé, que o acompanhara durante toda a jornada, foi seduzida por um cafetão logo que chegou à cidade; a imprensa, um cordelista de rua, e até o dono de uma bar próximo à Igreja tentam aliciar o próprio Zé. Este, alheio a todas as propostas, só pensava em cumprir o seu juramento e voltar para casa.

O filme é relativamente curto, tem pouco mais de uma hora e meia, mas, ao mesmo tempo, é tão abrangente – fala de reforma agrária e “denuncia” a manipulação das informações por parte da imprensa – que só mesmo um grande diretor como Anselmo Duarte consegue discorrer, com singular maestria, sobre tantas coisas em pouco tempo.

É praticamente impossível assistir e não se emocionar com essa história que poderia ser a de qualquer um de nós - no fim das contas, católicos ou não, cada um carrega a sua própria cruz. A história de um homem comum, demasiadamente cândido, impossibilitado de cumprir uma promessa por causa dos caprichos e interesses de outrem.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Harrison Ford e última empreitada



Depois de Silvester Stallone (Rocky) e Bruce Willis (Duro de matar) retomarem antigos sucessos de suas carreiras, chega a vez de Harrison Ford reincorporar o seu personagem de maior sucesso no cinema: Indiana Jones. Previamente batizado de Indiana Jones IV, o filme que tem lançamento previsto para maio de 2008 – dessa vez, a data foi anunciada pelo produtor George Lucas - ainda não possui um título definitivo. A princípio, especula-se que o filme chamar-se-á Indiana Jones and the city of gods, entretanto, já foi registrado na Associação de Registros de Títulos de Filmes da América, outros cinco prováveis nomes.
O roteiro que vem sendo desenvolvido há um certo tempo e mudou de mãos várias vezes terá as assinaturas de David Koepp e Jeff Nathansson, e acredita-se que a trama estará cronologicamente situada entre as décadas de 40 e 50, na cidade perdida de Atlântida.
O filme surge como uma resposta àqueles que, julgando Ford - 65 anos - velho demais para dar vida ao esguio Jones de outros tempos, achavam preferível não testemunhar uma continuação possivelmente fraca, temendo que esta viesse a manchar a saga do herói. Vale mencionar que Harrison Ford tem dispensado os dublês na maioria das cenas. No elenco ainda estão os nomes de Cate Blanchett, Shia Labeouf, John Hurt, Jim Broadbent e Ray Wistone.
Se a aposta de Lucas e Spilberg vai dar certo, só o tempo dirá. Entretanto, até mesmo os mais pessimistas esperam um sucesso, no mínimo, análogo a Rocky Balboa – cujo orçamento inicial foi de 24 milhões de dólares e arrecadação ultrapassou a cifra de 150 milhões, causando surpresa em seus idealizadores – e Duro de Matar 4.0 que liderou bilheterias em todo o Brasil.
Os outros três filmes da série foram Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida; Indiana Jones e O Templo da Perdição e Indiana Jones e A Última Cruzada. Todos eles foram rodados na década de 80 e obtiveram grande êxito, enchendo as salas de cinema por onde passavam.
A apreensão que toma conta do público é visível até nas palavras do produtor: “Vai ser como fazer ‘A ameaça Fantasma’ novamente, a expectativa por parte dos fãs é tão grande que se torna maior do que o que você pode oferecer.”, disse Lucas.
Embora o receio e a incerteza tomem lugar em toda e qualquer continuação que se faz, no que diz respeito a Indy Jones, posso afirmar com certa exatidão: Vale a pena apostar nessa aventura que, provavelmente, será a última grande empreitada de Harrison Ford, pelo menos usando chapéu e chicote.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Caminho para Guantánamo


Caminho para Guantánamo é um documentário dramatizado dirigido pelo britânico Michael Winterbottom, em parceria com Mat Whitecross. Baseado numa história real, narra a trajetória de três ingleses detidos no campo de Guantánamo.

Ruhal Ahmed, Asif Iqbal e Shafiq Rasul são três jovens ingleses capturados pela Aliança do Norte no Afeganistão em 2001 e presos como "combatentes ilegais" pelos Estados Unidos no Campo militar de Guantánamo, sem direito a acusação nem julgamento.

Acordar as pessoas do torpor político que tomou parte do mundo quanto à guerra ao terror de George W. Bush foi a meta traçada pelo diretor Michael Winterbottom. Muito se escreveu sobre as condições sub-humanas, o desrespeito aos direitos civis básicos, os interrogatórios inúteis baseados em inteligência falha e a falta de resultados que envolvem a prisão militar dos EUA mantida no Caribe, para onde são encaminhados os suspeitos de atividades terroristas. Mas, como diz o ditado, uma imagem vale por mil palavras. E poucas imagens são tão poderosas quanto as mostradas no docudrama de Winterbottom. O longa de 95 minutos intercala depoimentos de uma turma de amigos britânicos de origem islâmica, presos por engano ao irem ao Paquistão para um casamento no meio da Guerra do Afeganistão (2001), e a reconstrução dramática do que aconteceu com eles.

Se o recurso da palavra guarda a força do factual, a imagem permite que as platéias tenham uma idéia mais próxima do que realmente acontece com os detidos de Guantánamo - o acesso da mídia à prisão era (melhor dizendo, ainda é) controlado e sofre censura militar.

Nos dois anos em Guantánamo, os três passaram por tortura e humilhação, sem que se saiba do que foram acusados. Muito menos cogitou-se dar-lhes direito a defesa. Ao serem repatriados para o Reino Unido em 2004, foram imediatamente liberados por falta de acusação. Que o espectador se lembre, ao assistir ao filme, que nesse momento há centenas de casos semelhantes na mesma prisão. Com uma diferença: agora, os algozes têm o amparo legal do Congresso dos EUA. Uma triste página para a mais antiga democracia contemporânea.

PREMIAÇÕES:
- Urso de Prata de melhor diretor no Festival de Berlim de 2006.

LOCAL:
O filme será exibido na Biblioteca Ney Pontes Duarte (antiga União Caixeiral) com ENTRADA FRANCA.

DATA E HORÁRIO:
Sábado, 15 de setembro, às 19h30min.

11/9


Na manhã de 11 de setembro de 2001, os irmãos Jules e Gedeon Naudet estavam filmando um documentário sobre a vida de um bombeiro principiante em Nova York. O que era pra ser um documentário banal sobre pessoas quase comuns, tomou um novo rumo ao ouvir-se um rugido no céu. Nesse momento, Jules virou sua câmera para cima, no exato instante de filmar a - por muito tempo - única imagem conhecida do primeiro avião colidindo com o World Trade Center. Por azar do destino, Jules e Gedeon tornaram-se testemunhas oculares do mais chocante e decisivo acontecimento de nosso tempo.

Com as câmeras rodando, os Naudet seguiram os bombeiros no coração do assim chamado Marco Zero. Jules entrou com a equipe de bombeiros dentro da torre norte. Pôde filmar do saguão do prédio toda a confusão e desencontro nos resgates. O resultado foi um poderoso registro visual de um dos mais tenebrosos momentos da história.

Mais de 180 horas de filmagem foram condensadas em pouco mais de 120 minutos. Realizado com muito critério, é improvável que alguma produção de Hollywood tenha a tensão da câmera tremida dos irmãos Naudet no World Trade Center prestes a ruir. Acontecimentos como este reforçam a necessidade de se fazer documentários.

LOCAL:
O filme será exibido na Biblioteca Ney Pontes Duarte (antiga União Caixeiral) com ENTRADA FRANCA.

DATA E HORÁRIO:
Terça-feira, 11 de setembro, às 19h30min.