O Cineclube Mossoró exibirá, no próximo sábado, dia 29, um grande sucesso do cinema brasileiro. Por que não dizer mundial? O Pagador de Promessas, filme de 1962, foi ovacionado em grande parte do mundo; recebeu uma miríade de elogios por parte da crítica especializada, chegando a ser premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Baseado na peça teatral homônima de Dias Gomes, o filme conta a história de “Zé do Burro” – interpretado por Leonardo Villar - um camponês do interior da Bahia, humilde e ingênuo, porém, de caráter bastante íntegro. Após a queda de um raio que atingira o seu burro, Zé, desesperado com a possibilidade de perder o seu querido animal, faz uma promessa para Santa Bárbara, a fim de que esta livrasse o jegue da morte. Caso a graça fosse alcançada, Zé doaria parte do seu sítio e carregaria uma cruz – que segundo as suas próprias palavras, seria “tão pesada quanto a de Cristo” – até o altar da igreja de Santa Bárbara mais próxima.
Como o burro havia escapado do acidente, Zé teria de pagar a sua promessa. Entretanto, ao contrário do que muitos podem pensar, a tarefa mais complicada para o protagonista não seria a árdua e longa caminhada, mas, sim, ter de enfrentar a intolerância da Igreja Católica. Como a promessa havia sido feita em um terreiro de Candomblé, embora se destinasse a uma santa genuína do catolicismo, o Padre Olavo (Dionísio Azevedo), o responsável pela paróquia de Santa Bárbara, não permite que Zé deposite a cruz ante o altar.
A partir desse momento, entram em cena novas discussões que vão muito além da fé e do sincretismo religioso – apanágio do povo baiano. Um simples ato de gratidão e devoção resulta em questões políticas e sociais. Rosa (Gloria Menezes), a esposa de Zé, que o acompanhara durante toda a jornada, foi seduzida por um cafetão logo que chegou à cidade; a imprensa, um cordelista de rua, e até o dono de uma bar próximo à Igreja tentam aliciar o próprio Zé. Este, alheio a todas as propostas, só pensava em cumprir o seu juramento e voltar para casa.
O filme é relativamente curto, tem pouco mais de uma hora e meia, mas, ao mesmo tempo, é tão abrangente – fala de reforma agrária e “denuncia” a manipulação das informações por parte da imprensa – que só mesmo um grande diretor como Anselmo Duarte consegue discorrer, com singular maestria, sobre tantas coisas em pouco tempo.
É praticamente impossível assistir e não se emocionar com essa história que poderia ser a de qualquer um de nós - no fim das contas, católicos ou não, cada um carrega a sua própria cruz. A história de um homem comum, demasiadamente cândido, impossibilitado de cumprir uma promessa por causa dos caprichos e interesses de outrem.